A pesquisa permitiu constatar que ações voltadas ao monitoramento e medição de dados sobre a intensidade e multiplicação das ilhas de calor urbanas são importantes para detectar a magnitude do problema e direcionar esforços para o desenvolvimento, adaptação e implantação de estratégias de mitigação. Existem soluções que podem ser circunstancialmente empregadas para promover a amenização da temperatura em alguns locais, mas um planejamento eficiente depende de um conhecimento mais criterioso sobre a manifestação do fenômeno em cada cidade.

 

A saúde das pessoas mais vulneráveis ao calor, como crianças, idosos e moradores de rua deve ser considerada nos investimentos governamentais. A importância da implantação de políticas públicas para combater efetivamente a poluição atmosférica e as emissões de CO2 contribuem para a mitigação dos efeitos das ilhas de calor urbanas. Melhorias no transporte público, proibição de trânsito de veículos movidos à combustível fóssil nos centros urbanos, altas tarifas para estacionamento nas regiões mais próximas do mesmo e inclusão de ciclovias cuidadosamente planejadas são algumas soluções encontradas. Cabe reforçar que o esclarecimento público antecipado e gradativo sobre as necessidades, os objetivos e as vantagens das soluções adotadas, assim como o oferecimento de possibilidades de participação nas decisões governamentais em prol do meio ambiente são capazes de gerar o comprometimento das pessoas que vivem nas cidades. O reconhecimento de pequenas ações comunitárias, como na Holanda, em que os moradores são incentivados a organizarem reformas rápidas nos jardins da cidade promovem o engajamento das pessoas no exercício da cidadania e consequentemente levam moradores a enxergar potencial de revitalização do verde em áreas esquecidas, deixadas de lado pela própria prefeitura.

 

Uma das estratégias mais empregadas para mitigação das ilhas de calor nas cidades se refere à inserção ou aumento do volume de vegetação nas estruturas urbanas. Essa expansão pode ser alcançada por diversas soluções, como o plantio de novas unidades de arvores ou de conjuntos planejados de árvores, e por meio de um bom planejamento, ser implantada em diversas regiões da cidade, como por exemplo, no perímetro imediato de edificações. As prefeituras podem incluir a vegetação em áreas com reformas e revitalização já previstas, o que garante que a solução possa ser contemplada como um fator adicional mais positivo. Algumas das cidades pesquisadas vem trabalhando objetivamente no processo de reinserção do verde nos espaços urbanos, principalmente por conta das metas de redução do aquecimento global definidas em suas agendas ambientais. Para que isso aconteça, são realizadas campanhas de conscientização, são oferecidas doações de espécies nativas, além de suporte técnico, como forma de engajar as pessoas nas prementes necessidades de recuperação do meio ambiente e manutenção da qualidade de vida. A utilização de telhados verdes parece ser uma solução já consolidada e bastante difundida no mercado de construção civil sustentável. O emprego de seus diversos tipos é fortemente incentivado por algumas prefeituras do mundo, por tratar-se de uma eficiente solução para resfriamento do ar local, além de apresentar outras vantagens ambientais importantes.

 

Cabe dizer que a inserção dessa solução, em larga escala, deve considerar as necessidades de manutenção, como as podas e o volume necessário de água, além das possibilidades estruturais das edificações, ou seja, deve ser cuidadosamente planejada.

 

As chamadas coberturas frias, por apresentarem menor temperatura superficial, por conta do elevado poder de reflexão da radiação solar também são consideradas uma importante solução para mitigação das ilhas de calor urbanas, principalmente pelo fato de que grande parte dos elementos que compõe uma cidade pode receber esse tipo de solução, como telhados, lajes, pavimentos e paredes. Problemas como o rápido acumulo de sujeira e o desenvolvimento de fungos podem comprometer significativamente a capacidade de preservação das propriedades dessa solução e exigir grande manutenção. Grupos de pesquisa vem trabalhando para melhorar a eficiência dessa solução, desenvolvendo pesquisas relacionadas à composição química dos materiais e a preservação das propriedades de reflexão. Prefeituras de cidades com alto grau de poluição atmosférica como São Paulo, devem ser cautelosas no emprego simplista desse tipo de solução.

 

A inserção de diversas áreas sombreadas por diversos tipos de coberturas dentro do espaço urbano também é indicada por algumas prefeituras como uma estratégia de mitigação para as ilhas de calor urbanas. Em dias mais quentes elas podem servir de abrigo para a população, além de oferecer proteção contra a radiação ultravioleta do sol, altamente nociva à pele. Nesse contexto, superfícies claras, altamente reflexivas, devem ser cuidadosamente analisadas quanto à emissão difusa de radiação nas pessoas presentes em seu entorno e sombras também podem ser planejadas para evitar essas ocorrências. Algumas áreas da cidade de São Paulo, que apresentam pouca ou nenhuma vegetação e amplos espaços abertos constituídos por elementos altamente reflexivos devem ser repensadas e a inserção de sombras planejadas pode ser uma solução a ser considerada.

 

O emprego de estratégias ligadas ao resfriamento evaporativo, por conta das propriedades térmicas de evaporação da água também corresponde a uma solução eficiente no combate às altas temperaturas em regiões urbanas, visto que podem alterar positivamente o microclima local e consequentemente proporcionar melhorias no conforto térmico.

 

O controle do volume e da altura de novas edificações, assim como a garantia de preservação de espaços mais abertos devem ser incluídos nos regulamentos de construção para que os ventos predominantes possam percorrer livremente as ruas das cidades e ajudar a evitar altas temperaturas.

Ao longo do desenvolvimento da pesquisa, além das tecnologias e soluções encontradas, foi possível verificar que a comunidade acadêmica vem realizado diversas simulações na tentativa de avaliar e comprovar o desempenho de estratégias já implantadas, assim como para sugerir novas possibilidades de mitigação de ilhas de calor urbanas.

 

No todo, a pesquisa permitiu concluir que o alarmante crescimento populacional urbano, em escala mundial, previsto para as próximas décadas, somado à realidade do aquecimento global, deve intensificar o fenômeno Ilhas de Calor Urbanas e, por isso, o conhecimento e investimento em estratégias de mitigação deve ser imediatamente considerado no planejamento estratégico das cidades afetadas.